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A Volta do Cinema ao Passado

Como a Textura da Película Está Reinventando a Indústria Cinematográfica


A Redescoberta da Beleza da Película

Nos últimos tempos, tenho acompanhado com grande entusiasmo o movimento de alguns diretores e cineastas que estão redescubrindo a beleza e a textura única da película cinematográfica. Após um período em que o digital parecia dominar completamente a indústria, vemos agora um retorno a técnicas e processos mais artesanais, com filmes como “Duna 2”, “Oppenheimer” e “Joker 2” sendo produzidos em película 70mm.

O que me fascina nessa tendência é a percepção de que não é necessariamente a tecnologia mais avançada que faz uma grande produção cinematográfica, mas sim a capacidade de inovar através da beleza e da textura única da película. Essa abordagem me parece uma resposta à sensação de que o digital, com sua definição excessiva, por vezes pode parecer “não tão real”.


A Textura Orgânica da Película

Um dos aspectos mais interessantes dessa redescoberta da película é a forma como ela permite um desfoque e uma textura mais orgânica, em contraste com a estética digital. Segundo o diretor de fotografia Lúcio Kodato, a película não possui pixels quadrados como o digital, mas sim partículas com uma forma mais natural, o que resulta em uma aparência mais suave e agradável à vista.

Além disso, Lúcio destaca que a película permite uma maior profundidade de campo e um desfoque mais interessante, algo que o digital muitas vezes não consegue replicar de forma tão eficaz. Essa qualidade “cinematográfica” da película parece estar cativando novamente os cineastas e diretores de fotografia que buscam uma estética mais envolvente e imersiva para suas produções.




O Resgate do Conhecimento e da Paciência

Uma outra questão interessante levantada por Cacalo Nuevo, fotógrafo profissional, é a importância do conhecimento e da paciência no processo de filmagem em película. Ele observa que, no passado, quando a tecnologia era mais limitada, os cineastas precisavam ter um domínio profundo de suas técnicas para conseguir realizar trabalhos de alta qualidade. Com a chegada do digital, muitas vezes essa necessidade de conhecimento foi deixada de lado, dando lugar a uma certa preguiça e imediatismo na produção.

Agora, com o retorno à película, vemos uma revalorização dessa expertise e dessa paciência necessária para trabalhar com o meio analógico. O próprio ato de aguardar o revelamento das imagens, sem a possibilidade de visualizá-las imediatamente, parece trazer de volta uma expectativa e uma emoção que o digital, com sua entrega instantânea, muitas vezes não consegue replicar.


A Busca por Diferenciação

Algo que eu acho interessante é a forma como alguns fotógrafos e diretores de cinema mais jovens estão se esforçando para se diferenciar, buscando técnicas e processos que lhes permitam criar uma estética única e autoral.

Vejo exemplos de fotógrafos que estão migrando novamente para o uso de câmeras e lentes de filme, mesmo atuando profissionalmente, pois percebem que essa escolha lhes confere um diferencial interessante em relação à concorrência. Essa busca por se destacar através de um conhecimento mais aprofundado e de uma abordagem mais artesanal me parece uma tendência fascinante dentro da indústria cinematográfica.


Conclusão: A Importância da Inovação através do Conhecimento

Em resumo, o que tenho observado nesse movimento de retorno à película é uma valorização da inovação através do conhecimento, em vez de uma simples busca por avanços tecnológicos. Os cineastas e diretores de fotografia que estão adotando essa abordagem parecem compreender que a verdadeira diferenciação não está necessariamente na última novidade tecnológica, mas sim na capacidade de explorar a beleza e a textura única da película, aliada a um domínio profundo de suas técnicas.

Essa tendência me parece um antídoto saudável contra a preguiça e o imediatismo que, por vezes, podem assolar a indústria cinematográfica. Ao resgatarem o conhecimento e a paciência necessários para trabalhar com a película, esses profissionais estão nos lembrando de que a verdadeira arte cinematográfica não se resume a meros avanços técnicos, mas sim a uma combinação de visão criativa, domínio de ofício e uma conexão íntima com o meio de expressão.

É empolgante acompanhar esse movimento de redescoberta e reinvenção do cinema, e estou ansioso para ver quais novas e fascinantes abordagens surgirão à medida que mais cineastas se aventurarem nessa jornada de volta ao passado.


Nos vemos no próximo artigo.

Comentarios


Marcello
Barbusci

Fundador da MB68

"Antes de ser reconhecido como documentarista, seja lembrado como alguém que vive e respira histórias com alma de cinema."

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MEMBRO DA AMCHAM

Regsitrado na ancine

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